
Não é novidade que a sustentabilidade é a menina dos olhos do design. Afinal, a busca por materiais e soluções capazes de responder às necessidades de vida e trabalho com o menor impacto possível ao meio ambiente é o único caminho quando se pensa no futuro de longo prazo do planeta. Mas ela não é a única estrela a guiar o trabalho de profissionais espalhados pelos quatro cantos do globo que veem no design uma ferramenta de empoderamento, de acesso e de ação também no âmbito social.
Alguns destes profissionais compartilharam seus projetos e ideias no programa "Trip of Design", apresentado pelo designer, músico e produtor de audiovisual Suyog aka, conhecido como o The Fun Indian Guy, dentro da programação do Fuorisalone.it, que tem cobertura exclusiva pela HAUS até o próximo domingo (21). Conheça mais sobre eles e o trabalho que realizam.
Nifemi Marcus-Bello
Com sede em Lagos, na Nigéria, o nmbelloStudio, do designer Nifemi Marcus-Bello, busca soluções contemporâneas para móveis, produtos e instalações que têm a experiência do usuário como um dos conceitos centrais a partir do foco na comunidade e recursos locais.
Um exemplo é o projeto que apresenta uma nova proposta aos teares, realizado em parceria com a designer de moda Kenneth Ize, também nigeriana, que possibilitou aos tecelões terem mais praticidade e usabilidade ao mover, armazenar e usar os teares. Redesenhada juntamente com os artesãos, a peça pode ser desmontada até metade do seu tamanho original. Uma alça ergonômica também permite a eles transportarem o banquinho com maior facilidade.

"É importante criarmos soluções, mas também é importante como estas soluções geram empoderamento econômico para as pessoas na África", avalia Marcus-Bello, sem descartar a importância da sustentabilidade no processo e materiais utilizados em suas criações.
Keiji Ashizawa
O Tsunami que atingiu o Japão há cerca de dez anos foi o ponto de partida do Laboratório Ishinomaki, projeto encampado pelo arquiteto e designer Keiji Ashizawa, em Tóquio.
Fundada em 2011, a marca teve início com um workshop público que oferecia oficinas de bricolagem para a comunidade local como forma de reconstruir o que havia sido devastado pelo fenômeno natural e inspirar as pessoas a se conectarem com o design. Não demorou para que voluntários da Herman Miller se juntassem às oficinas, que deram origem à marca que utiliza materiais locais em produtos produzidos e consumidos localmente com fomas puras e simples.

"Eu acredito fortemente que a ideia do local deve ser ainda mais expandida. Eu continuo tentando fazer produtos bonitos, uma arquitetura bonita. Mas depois do projeto Ishinomaki, [percebi] que a arquitetura e o design podem acessar a sociedade. É um pequena ação, mas nós podemos fazer alguma coisa como designers e arquitetos", completa.
Matteo Guarnaccia
A ênfase no local também fundamentou o projeto Cross Cultural Chairs, realizado pelo designer da Sicília, Matteo Guarnaccia, baseado em Barcelona. Por meio do móvel-ícone do design mundial, a cadeira, ele apresentou em um estudo antropológico as particularidades culturais dos oito países mais populosos do mundo que visitou, incluindo o Brasil.
Em cada um deles, Guarnaccia se uniu a estúdios e artesãos locais para desenhar e produzir um novo móvel, como forma de contrapor o impacto da globalização sobre a produção e o consumo do design.

"Eu não sei dizer se a globalização é boa ou ruim. Penso que quero trazer mais perguntas à minha geração: você realmente quer seguir uma única direção, como uma única nação, única bandeira? Ou queremos valorizar nossa cultura, nossa religião e ficarmos orgulhosos delas?", provoca o designer.
Cumulus Association
Fundada no início dos anos 1990, a associação funciona como uma plataforma que advoga pelo papel da arte e do design em fazer o mundo melhor. Prova disso está no "Cumulus Green 2020: For A New Circular Economy", competição voltada à responsabilidade no consumo e na produção de bens que apresentou três vencedores.
O primeiro deles é o projeto FiloSkin, assinado pelo designer Valerio Di Giannantonio, um sistema especulativo que propõe um fio feito de H. Pluvialis, uma microalga capaz de produzir oxigênio, filtrar CO² do ar e responder a mudanças no ambiente, assumindo cores diferentes, por meio de uma relação simbiótica com a pele, mitigando problemas ambientais e adaptando os humanos às condições de poluição.

As algas também são a base do Bloom, rede de bio-reatores assinados por Natalie Ferry e Stefano Pagani. Com design funcional e estético, o sistema é integrado à decoração doméstica por meio de cortinas e esculturas de janelas pelas quais circulam algas que se aproveitam do calor e da energia absorvidas pelo vidro para se proliferarem, contribuindo para a produção em massa de biocombustíveis.

As designers Frida van der Drift Breivik e Frøya Thue também apostam nas algas, mais especificamente no cultivo delas, para uso em embalagens. Para contribuir com a meta estabelecida pela Noruega de produzir 20 milhões de toneladas de algas até 2050, elas estudaram as propriedades do biomaterial e propõe, com o DYPP, alternativas de uso dele como maneira de fomentar o cultivo das plantas aquáticas.

"O design tem um importante papel na economia circular. No design, nós fazemos importantes escolhas sobre materiais, se eles poderão ser usados um outras aplicações ou, infelizmente, irão para [lixões] ou incineradores", resume Simon Widmer, jurado da competição e designer da Ellen MacArthur Foundation, patrocinadora da competição.
Gastos subestimados e pautas-bomba indicam que rombo nas contas pode ser ainda maior
Oposição promete continuar a obstruir votações na Câmara e articula PEC para pressionar o STF
A reação do Congresso aos avanços do STF
Sai a meritocracia, entra a lacração: música clássica é tomada pelo ativismo “woke”