
Sair de casa em um domingo ensolarado para conhecer o mais novo parque da cidade, projetado por ninguém menos do que o arquiteto Jaime Lerner.A cena, extremamente familiar aos curitibanos, que tiveram no ex-prefeito o nome à frente dos parques que deram a cara da Curitiba do cartão-postal nos anos 1990 – e pela qual ela é reconhecida até hoje -, foi vivenciada por milhares de porto-alegrenses que visitaram o Parque da Orla do Guaíba, na capital gaúcha, no fim do mês de junho.
Inaugurado oficialmente na sexta-feira (29), o parque teve a primeira etapa de sua revitalização entregue à população com DNA 100% curitibano. Isso porque seu projeto arquitetônico e paisagístico leva a assinatura do escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA), enquanto o de desenvolvimento ficou a cargo da também curitibana Grifo Arquitetura.

“Tivemos neste projeto a colaboração dos melhores profissionais do país. Tanto a prefeitura [de Porto Alegre] quanto os executores da obra [o consórcio Orla Mais Alegre, também da capital gaúcha] tiveram uma atuação muito responsável, que resultou em uma obra desta qualidade, pela qual sou muito grato e estou muito feliz. Mas o DNA é nosso”, avalia o arquiteto Jaime Lerner, em entrevista exclusiva para HAUS.
O projeto
O convite para que o escritório fosse o responsável pela revitalização da orla do Guaíba, cartão-postal de Porto Alegre, partiu do ex-prefeito José Fortunati no final de 2011, como conta Fernando Canalli, sócio do JLAA e responsável pela coordenação do projeto e acompanhamento das obras. Os trabalhos tiveram início já no começo do ano seguinte.
“O principal desafio foi a resistência que tivemos sobre a decisão da prefeitura em nos contratar por notório saber, uma vez que muitos queriam a realização de um concurso [de arquitetura]. Mas também foi uma motivação para nós [poder devolver] a paisagem do Guaíba ao povo de Porto Alegre”, destaca Lerner.

Para isso, o projeto teve como premissa deixar livre a vista para o lago e para o seu famoso pôr do sol, patrimônio porto-alegrense. Assim, todos os equipamentos que integram os 1,3 quilômetros de extensão desta primeira fase do Parque da Orla do Guaíba foram instalados abaixo do nível do calçadão que margeia a avenida Edvaldo Pereira Paiva, conhecida como Beira Rio. Entram nesta lista os quatro bares (com capacidade de atendimento de 500 clientes simultaneamente cada), cujas lajes funcionam como mirantes.
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“Este primeiro trecho entregue é dedicado ao passeio, à contemplação. Então, conectando os bares estão as arquibancadas contínuas em concreto, que servem justamente para que as pessoas possam se sentar e apreciar o espetáculo natural do pôr do sol”, acrescenta Canalli.
Quando o astro se põe, o destaque se volta para o “Chão de Estrelas”, solução proporcionada por uma faixa de 300 metros lineares de pontos luminosos concretados junto ao piso. O resultado é um efeito cênico poético e único.

Ponto focal
A contemplação da paisagem está presente, também, em outros elementos que integram o projeto desenvolvido pela equipe comandada pelo arquiteto Jaime Lerner. O restaurante panorâmico para 280 lugares, instalado próximo ao Centro Cultural Usina doGasômetro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae), traz piso, teto e vedações em vidro, proporcionando uma vista de 360º do lago e da cidade.
“Batizei o restaurante de “Quase meia-noite”. Queria que ele fosse um lugar no qual as pessoas que queiram se encontrar no parque o possam fazer com facilidade. Então, o nome [inusitado] nasceu dessa intenção de facilitar os encontros”, explica Lerner.

As alças da passarela, que se prolongam sobre as águas do Guaíba, estendem a orla e potencializam o desfrute da paisagem, da mesma forma como ocorre com a praça de madeira, que tem 4 mil m² de área e também repousa sobre o lago. “É uma obra que não repete os calçadões que existem em todas as frentes para a água no nosso país”, acrescenta o arquiteto e ex-prefeito.
Os postes inclinados, que potencializam a área iluminada pelas luzes de LED, garantem a segurança da área, que ganha reforço com o módulo da guarda municipal e o monitoramento por câmeras de todo o perímetro do parque. Duas quadras poliesportivas, vestiários, ciclovia, parque infantil, academia ao ar livre e 20 espaços destinados ao comércio ambulante completam esta primeira etapa do projeto. O custo estimado da primeira etapa das obras foi de R$ 71 milhões, cerca de R$ 11,7 milhões acima do estimado.
Para a segunda fase, ainda sem data para o início das obras, está prevista a requalificação de mais 2,5 quilômetros de extensão da orla que, segundo Canalli, será dedicada exclusivamente aos esportes.

“Ela contará com quadras para a prática de diversas modalidades, como futebol society, vôlei e basquete, e tem prevista a construção da maior pista de skate da América Latina, com 7 mil m² dedicados a todas as modalidades do esporte. A pista, inclusive, estará capacitada para receber eventos internacionais”, destaca.
Outro ponto que merece atenção, na opinião de Lerner e Canalli, é o fato de o projeto ter sido iniciado pela antiga gestão de Porto Alegre e finalizada pelo atual prefeito do município, algo raro de se ver em terras brasileiras. “É mais um grande exemplo [que esta obra] dá para o país”, resume Lerner.
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